O período entre o Natal e o Ano Novo é peculiar.
São dias que flutuam fora do cronograma habitual, em que compromissos diminuem e há uma pausa coletiva no ritmo frenético do cotidiano.
Embora muitas vezes sejam vistos como “dias mortos” mesmo sem a gente querer que seja desta forma, esses momentos possuem um potencial transformador de nos reconectarmos com o que realmente importa.
Vivemos em uma sociedade que glorifica a produtividade incessante.
Parar, muitas vezes, é sinônimo de fracasso ou desperdício de tempo.
Mas, acredito realmente que em momentos especiais e oportunos, parar seja exatamente o oposto: as pausas são fundamentais para o equilíbrio emocional, a criatividade e a saúde mental.
Assim como atletas têm o “off season” para descansar e se fortalecer, todos nós precisamos de momentos de pausa para nos prepararmos para novos ciclos.
Pausar é um ato de coragem. É resistir à pressão de sempre fazer mais e se dar o presente de simplesmente ser.
E se você precisa de inspiração para isso, gostaria de compartilhar duas sugestões que podem transformar esse momento e te fazer refletir de forma profunda.
O primeiro livro da curadoria é um que em uma das muitas ocasiões que me lesionei, ganhei – por coincidência – de duas grandes amigas e entendi com um sinal claro de que estava precisando desacelerar. Ainda bem que escutei!
As Coisas que Você Vê Quando Desacelera, de Haemin Sunim.
É um convite poético para enxergar a beleza do momento presente, valorizar pequenas pausas e encontrar significado na quietude. Sunim nos ensina que desacelerar não é apenas parar fisicamente, mas um ato de cuidado com a alma.
Ele nos lembra que o mundo não vai desmoronar se pararmos para respirar.
Ao contrário, é nesse respiro que encontramos clareza, paz e beleza em detalhes que antes passavam despercebidos.
Quando tudo ao meu redor está indo rápido demais, eu paro e me pergunto: “O mundo é agitado ou será que é a minha mente?”.
Haemin Sunim
A segunda dica da curadoria é um livro que já li e reli muitas vezes, e inclusive indiquei no clube do livro de que faço parte.
Favor Fechar os Olhos, de Byung-Chul Han.
Diferente do tom acolhedor de Sunim, Han traz uma provocação poderosa: estamos tão cercados por estímulos e barulhos que nos afastamos de nós mesmos. nos oferece uma visão crítica e profunda sobre o impacto da hiperatividade moderna. Han argumenta que vivemos em uma era de excesso de estímulos, onde o silêncio e a contemplação são negligenciados e nos faz refletir sobre como a conexão constante nos distancia de nós mesmos e do essencial. Suas palavras são um convite para entender a diferença entre os tempos e a redescobrir o valor do silêncio, da contemplação e das cerimônias, elementos fundamentais para nos encontrarmos em um mundo que nunca para.
O tempo da festa não é apenas um tempo de relaxamento ou da recuperação. A festa é, ela mesma, uma forma de conclusão. Ela deixa que um tempo inteiramente outro comece.
Byung-Chul Han
Essas leituras, cada uma à sua maneira e linguagem, me ajudaram a entender que descansar não é apenas uma necessidade biológica, mas um ato de resistência e autocuidado.
Então por que não aproveitar esse intervalo entre dezembro e janeiro para mergulhar nesses livros, desconectar das pressões externas e se reconectar com você mesmo?
Ambos nos mostram que desacelerar – em momentos estratégicos – não é preguiça, mas sabedoria.
Neste final de ano eu te desafio a fazer algo por você:
Desligue o despertador.
Diminua o uso das redes sociais.
Saia para caminhar sem pressa.
Conecte-se com a natureza.
Leia algo que nutra sua alma.
Respire fundo, observe o que está ao seu redor e ouça.
Pergunte a si mesmo: o que eu realmente preciso agora? O que eu quero para o meu futuro?
No final, desacelerar não é apenas uma pausa.
É uma conclusão. Uma cerimônia. Uma celebração.
É o abrir espaço para que o silêncio nos mostre o caminho a seguir.
Porque o verdadeiro recomeço não está no calendário,
ele só começa quando nos permitimos pausar.
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